terça-feira, 26 de outubro de 2010

Diarios de uma condenada



Ainda me lembro da vez em que eu fui transformada, da sensação e do tempo em que me encontrava. Era no século dezenove, mais exatamente 1876 e eu era uma jovem com um futuro glorioso. Meu pai era um conde, rico e com muitas posses e eu era a jovem mais bonita do local onde morava. Eu ia me casar com um conde, que era 4 anos mais velho do que eu. Juntos íamos ter uma família e um futuro, se não fosse um desastre.

Eu e meu noivo andávamos pela rua quando uma linda e atraente menina, acompanhada de um jovem igualmente belo nos para. Deveria ser por volta de meia noite, a rua estava deserta e fazia muito frio. Inocente, não me dei conta do que podia ser, porém John se deu e me mandou correr. Não deu tempo para ver ou se ter alguma reação, eu fora pega pelo pescoço e jogada contra a parede.

Ainda posso sentir o sangue escorrendo pela minha nuca e molhando a gola do meu vestido branco com detalhes em azul. Lembro-me que o meu noivo foi o primeiro a ser mordido, depois foi minha vez. Senti medo, frio e dor. Vocês sabem o que é morrer sofrendo? Isso lhe faz mudar completamente.

Quem me atacou foi o belo jovem. Ele sorriu sarcasticamente para mim, antes de me condenar. Alisou meu pescoço e falou que eu daria uma bela dama de companhia para ele. Ainda posso ter a sensação dos dentes afiados dele perfurando minha pele, atingindo minha carne e do meu sangue sendo sugado. Ele era sádico, não me deixou morrer ali. Ele, no final, passou sua língua na ferida e ainda mordeu meu pulso. Levou-me junto com eles, deixando meu noivo morrer ali.

De repente, no colo daquele desconhecido, a dor foi se elevando e tudo parecia queimar. Minha cabeça parecia explodir e eu gritava a plenos pulmões para que ele me matasse, para que aquilo acabasse. Foi assim durante dias, ate que parou. Senti meu coração parar e o frio me abater. Eu havia morrido.

Abri os olhos e a primeira coisa que eu vi foi os dois, me dando boas vindas e falando que eu havia demorado muito para voltar. Eles me mostraram como me alimentar, me deram roupas novas e me ensinaram tudo que eu tinha que aprender, porém eu os deixei e partir para a minha própria estrada, sozinha mesmo. Agora estou aqui, escrevendo o que me aconteceu e observando as pessoas andando. Fazer o que, quando não se tem nada o que fazer e você não pode dormir, você inventa o que fazer. Estou condenada, mas vou condenar muito mais.

Relatorio da memória


Chovia mais uma vez, uma coisa muito comum, porém, algo que me irritava um pouco. Minha cama era o local maravilhoso para se descansar, mas para se refletir era melhor ainda. Estava deitada em meu quarto, olhando para cima, observando o teto cinza sobre mim e pensando um pouco. Os dias haviam sido intensos desde o funeral dos meus pais, que foi há dois meses, desde então eu estava morando com minha avó e com minha prima, a vaidosa Valentina.

Minha mente vagava pelos momentos que vivia ali e pelo ultimo com meus pais. Sabe, foi antes de eles saírem comigo para irem até o shopping, era o meu aniversário, íamos comemorar. Lembro-me que na volta uma luz ofuscou nossas vistas, depois o carro capotou e uma escuridão tomou conta da minha visão. Minha memória era nítida demais, parecia que havia sido ontem. O som da sirene da ambulância, minha visão turva, o hospital, a face da minha avó, a noticia, a mudança. Tudo se misturava em minha mente e me fazia chorar.

Droga, eu havia prometido que não choraria mais, porém como evitar se o coração se estreitava na cavidade de meu peitoral. Por que eu havia sido condenada a viver sem o amor de meus pais? O que eu havia feito? A culpa me consumia por dentro e somente meu travesseiro sabia das minhas lágrimas.

Olhei para fora, pela pequena janela do meu quarto e vi o céu cinzento. Levantei-me e caminhei até a janela. Podia ver a paisagem bucólica do lugar e isso me acalmava. Respirei fundo, limpei minha face e abri a janela. O vento gélido entrou em meu quarto, percorrendo-o e me fazendo sentir calafrios, no mesmo momento fechei.

Eu iria para a escola no dia, já que estava “melhor” e “apta” para ir- ou assim pensava. Voltei para cama, fiquei fitando o meu computador que ali estava desligado. Olhei para o porta-retrato ao meu lado, a foto dos meus pais era meu conforto. Talvez um dia os encontrasse.

Senti como se algo fosse acontecer em minha vida, algo que seria novidade para mim. Convenci-me que era a escola o algo novo, afinal, eu seria a novata sem graça e inteligente. Fechei os olhos, me cobri e logo iria começar a cochilar, ou até mesmo dormir.