sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um dia que nunca será esquecido

Por favor, segure minha mão e não me largue. Preciso de você mais do que em qualquer momento. Sinto-me medo, frio e desprotegida. Fique aqui comigo. Ajude-me! Por favor, me ajude. Não me deixe aqui. Estou com medo. Fique e segure minha mão ou me tire daqui. Salve-me, por favor!Não me deixe morrer aqui. Por favor, me tira daqui. Socorro! Esta doendo, por favor me ajude!



Não consigo tirar da minha mente esses pedidos e as muitas faces que vi pedindo socorro. Isso me atormenta, não sei exatamente porque aquilo aconteceu, porém não consigo esquecer. Por que tinha que acontecer? Tínhamos culpa de algo? Porque ele atirou em nos? O sangue... Aquele cheiro da morte... A sensação que eu seria o próximo.



Tudo havia acabado na realidade, mas na minha mente não. As cenas ainda aconteciam. Os tiros. As pessoas caindo. Correria. Gritos de medo. Salas sendo trancadas. As mortes. Os feridos. A tentativa de sobreviver. O não saber se estiva ferido ou não. Sangue no chão. Uma cena d guerra dentro da escola.



Flash faziam sensações voltarem para mim. Meus olhos fitavam o vazio e meu corpo reagia agressivamente a qualquer tipo de toque. Eu sabia que havia sido atingido, mas não estava bem para ser salvo. Gritos ecoavam em minha mente, imagens despertavam ainda mais meu medo, sons me faziam ficar mais ansioso. Pensei que estava seguro antes disso tudo acontecer, mas tudo mudou com os tiros.



Vi amigos que estudava a anos morrerem na minha frente. Eu ia às casas deles, eles na minha. Saímos para nos divertir, porém nunca fizéssemos nada contra ninguém. De repente, tudo havia acabado. Eles estavam no chão, alguns sem vida, outros quase sem. Eu estava em choque.



Não sei o que é pior: a perda de pessoas que você gosta bem na sua frente ou ter a sensação de ser incapaz de poder salva-los quando eles mais precisaram. Perguntaram-me se eu estava bem, eu respondi: “ Você ficaria bem ao ver seus amigos morrerem na sua frente?” Porém não foi uma resposta pensada, foi mais instintiva.



Tudo vai voltar ao normal? Para mim não, já para os outros eu não sei. O que aconteceu não feriu somente a carne, mas também a alma. Como posso ficar bem depois de ver mortes? Como posso voltar naquele lugar ao saber que lá fui incapaz de salvar as pessoas que eu gostava? Não, sou incapaz. Não vou voltar. Não quero voltar.



Não tenho coragem de ir aos enterros, de ir às missas em homenagens a eles, de ir a algo voltado a eles, pois me sinto culpado por não conseguir salva-los. Não consegui salva-los... Sou fraco. Seria uma vergonha aparecer nos cortejos, já que não os salvei.



Nunca me senti tão solitário, tão culpado, tão... Não sou nada e não pude fazer nada. O que adianta ouvir,ver, andar, ser normal, se não consegui salva-los? Não adianta nada. Eu só pude vê-los morrer, ouvir seus gritos, segura nas mãos de alguns amigos enquanto morriam. Do que isso adianta? Sou culpado.



Não puxei o gatilho, mas sou culpado. Não os salvei. Só segurei suas mãos. Só fiquei ao lado deles. Só tentei protegê-los. Mas isso não os fez sobreviverem. Eu estou vivo e eles mortos, gostaria que fosse o contrário. Fui fraco, mas para honrar a alma deles, agora serei forte e seguirei minha vida, ser o que eles não puderam ser: adultos com estudos e com um emprego digno. Prometo que farei isso. Durmam em paz amigos.


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